Dicas de Leitura: O olhar profundo da escritora brasileira, Kathia Gregório, sobre os livros "A última Masoxi" e "A menina da Burca", do jovem escritor angolano, Beni Dya Mbaxi


Por: Beni Dya Mbaxi

Káthia Gregório, servidora pública, artesã e também escritora. A brasileira escreve crônicas, contos, poemas e em 2021, publicou o seu meu primeiro livro de poemas "Exuvia", pela editora Ascensão e publicará o seu primeiro romance antes do fim desse ano (2022).

Leitora assídua e escritora traz o seu olhar profundo sobre os livros em causa do jovem escritor angolano, Beni Dya Mbaxi, autor premiado, tem na sua carteira literária cinco livros publicados e colunista de vários jornais internacionais. 

Sobre os livros: 

 "A última Masoxi" 

O ser humano insiste em se distanciar de Deus ao soltar suas sombras. Dizem que a vida é feita de escolhas. Mas elas são decididas por quem? Se por nós mesmos, seremos reféns das consequências; porém, se feitas por outrem, talvez sejamos vítimas. O tema abordado é muito importante. O autor Beni Dya Mbaxi o faz com propriedade, com seriedade e de uma maneira muito significativa. É de doer no corpo e de rasgar a alma saber que muitos atos de violência ainda são praticados por aqueles que ignoram a consanguinidade e que tem a obrigação de resguardar; a proteção que deveria existir, não apenas devido aos laços familiares, mas sobretudo, ao laço de amor ao próximo, inerente a todo ser humano; ou pelo menos deveria ser. 

Da intimidação sofrida pela personagem, sobreveio um trauma psicológico, culminando na Síndrome de Estocolmo. O vínculo surgido entre o seu agressor não significava que a vítima compactuava com os abusos físicos, morais e emocionais recebidos, mas tão somente apontava o medo que ela tinha do desconhecido. A quais diferentes torturas também não se ficariam sujeita, caso caísse em domínio de um outro qualquer? Quando as pessoas de um povoado, ao saudar um rei, diziam: — Vida longa ao Rei! por mais tirano que ele fosse, estava implícito naquela saudação o medo de que o próximo pudesse ser muito pior. Talvez assim pensasse “A Última Masoxi”. Parabéns, Beni Dya Mbaxi, pela obra! 

 "A menina da Burca" 

Muito se discute sobre o uso da burca, vestuário que constantemente desperta as opiniões e as atenções em toda a parte do mundo. No livro “A menina da Burca”, a personagem se decidiu por utilizá-la por uma razão pessoal, entretanto, se prestássemos atenção nos rostos de muitas mulheres, independentemente de seu país de origem, perceberíamos que, talvez, a grande maioria faz uso de uma ‘burca invisível’. Sim, uma vestimenta invisível que oculta sentimentos amargos, camuflados sob um olhar triste, cabisbaixo e vago; um olhar em direção ao nada, na eterna busca pelo sentido de tudo; uma burca que também esconde os sorrisos, as bocas cerradas e caladas, os corpos cansados e, muitas vezes, com rastros de violência deixados. Por imposição religiosa ou não, distintas são as razões que induzem as mulheres a fazerem uso de uma burca: seja ela real ou não. “A Menina da Burca” é uma leitura impactante que nos leva à reflexão sobre sentimentos reprimidos. É, também, um mergulho profundo na eterna busca da compreensão do comportamento humano.

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