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terça-feira, 9 de novembro de 2021

Graciliano Ramos, o porta-voz dos ciclos permanentes

Foto: Arquivo público do estado de São Paulo

Por: Barmonte | 25-10-2021

Graciliano era a voz da consciência a narrar toda a fartura perseguida pela ausência. Num espécie de filme vivido, viu heróis e inimigos, privilégios e castigos, boa sorte e maldições. Em seu olhar narrado com grande riqueza, ria aquarelas imaginárias onde a natureza e toda sua beleza, faz o pasto verdejar, a neblina enevoar-se e num simples sopro, vê poeira, e escassez. Vê também a nudez e a crueza da morte, carregada pela sequidão.  Num mundo fértil, imaginário, dolorido, incompreensível, mas observável, pelas brechas que a vida lhe permitia espiar.

As pessoas a sua volta eram como personagens de um enredo sem pausas. Verificava os traços, os trejeitos, os vícios, qualidades e defeitos e até na forma da cidade, transportava-se para o alto e enxergava lá de cima o corpo aleijado chamado Buíque. Venerava a velha Maniçoba, recordava a bonança dos tempos chuvosos e devastação do verão sertanejo no Pintadinho. Recordava as rezas do pai e o estranho latim rezado pela esposa de um vaqueiro seu.

Montanhas de grãos de milho servira como distração. Atormentado pelos fantasmas que desciam e subiam sem cessar, parecia à sua frente projetar, os medos daquilo que ainda não compreendia. O que diriam os sapos à beira do açude da Penha? O que diriam os filhos de Teotônio Sabiá? Nunca se soube, porque nunca pôde ir até eles. Graciliano vivia aprisionado e a única brecha de fuga, eram os olhos, a mente e os ouvidos.

Um exercício frequente, onde a busca pelo entendimento das coisas confusas a sua volta o fizeram ser quem foi. Graciliano teve por escola inicial, a vida vivida em Buíque. E talvez tenha conhecido mais da cidade estando preso por trás de muros, do que os que viviam à solta pelas ruas e estradas. Sua mente, tal qual o sobrenome, tinha ramos que alcançavam confins do mundo. Para nele externar outros mundos, no universo dos livros e assim, tornar-se parte de um mundo em que os que morrem, sobrevivem. Graciliano Ramos de Oliveira é planta abstrata, amarga e singela, simples e complexa, avessa e inversa. É como um cacto em meio à caatinga. Que floresce e espeta e espera na sequidão os dias chuvosos. Que revela em vidas secas, as marcas encrustadas a cada pedra e cada face enrugada, carregada por experiências de morte e sobrevivência. Revivida em ciclos permanentes, numa terra de reis e rainhas pobres, cujas coroas estouram no solo e absorvem a plenitude do sol. 

Graciliano foi um menino que habitou o corpo de um homem que fotografou a essência do interior nordestino e o Buíque de seu tempo, usando apenas palavras.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

ARCOVERDE: ESTAÇÃO DA CULTURA RECEBE ESTRÉIA DE ESPETÁCULO DO GRUPO OBÁ AIYÊ

Mais um capítulo na história da Estação da Cultura será escrito na noite de hoje, uma estreia cheia de expectativas para os membros do Grupo de Matrizes Africanas Obá Aiyê. O evento em questão é o espetáculo  RAINHA DAS ÁGUAS MÃE DO MAR, e terá inicio as 19h30.