VELHO RAMOS

Fonte: http://www.multirio.rj.gov.br/

Por: Pedro Ivo Albuquerque

Como escravo que não é dono de sua própria vida,
Como uma rês do cercado de terra alheias
É o pobre vaqueiro entre os currais e colcheias
Quando até o gibão é devolvido na partida.
O aboio que deixava as vacas entorpecidas
Percorria os cantos da mata em sua voz nua.
Sobre o cavalo do patrão e numa vestimenta crua.
Na caatinga amarela pelo poente avermelhada
Os quipás, mandacarus, as cercas e as estradas
Eram as cores e a pintura da seca vida sua.

Aos sábados, as ruas de matutos fervilhavam 
E a missa santa aos domingos era celebrada.
Os frequentadores das praças e das calçadas 
Debatiam os fatos passados que se renovavam.
E das coisinhas que nos matos se observavam:
A flor de mandacaru que uma vez desabotoa,
Os altos dos montes secos, para lá daquela lagoa
E pelos frios agudos da serra andavam expostas
Figuras solitárias com as mãos atrás das costas,
Em capotes, como urubus arrepiados na garoa.

Em um passado perto, Buíque foi morada
De um gigante das letras e também das linhas.
E no presente estas letras, pelas letras minhas,
Nessas linhas pobres são homenageadas.
Que suas páginas sempre sejam folheadas.
E hoje nós, leitores do Cyl Galindo estamos
Celebrando os cento e vinte e nove anos
Do criador da pequena cadelinha baleia
E da surra que o pobre levou na cadeia:
Do sábio Graciliano, o velho Ramos.

Outubro de 2021

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