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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

TE(R)ÇA COM CYL GALLINDO: POEMAS

Imagem: Grupo de Leitores Cyl Gallindo

A CONSERVAÇÃO DO GRITO-GESTO

Poema VII

Serei o último poeta a me sentar à mesa
o verso só vem a mim depois de cristalizado.

Meus versos são gente pobre
e convivem com a fome
nos brinquedos da infância.

São os meus versos surrados
em plenas ruas do mundo
e confidenciam o seu corpo
à intimidade do relento.

Mas que os abutres não se iludam,
pois não joguei sobre a mesa
todos os naipes do Grito-Gesto:
o segredo é necessário para o jogo e para a luta.

Dei apenas o meu canto feito de estrela e de sangue:
no amor nunca tem noites
nem esquinas de escuridão!

Em cada carta há duas faces
que os homens tentam beijar
mas enquanto o trunfo estiver retido
a canção será menor...

Vamos traçar novamente a esperança e a vontade!

A SOBREVIVÊNCIA - MANGUE
— Recife —

POEMA I

E a ponte esvai-se pelo rio
trêmula navegante nula;
nas suas cáries residimos
logicamente crustáceos.

Bípedes arquitetando sombras,
planos rostos refletidos: nunca,
no aquático espelho dos sobrados
sustém o eco dos sentidos desusados
que mordem das impegadas mãos o tato.

Incerta lama convivida:
alma lama renascida ao sol.
Anfíbio (caranguejos, siris, meninos)
o peito ereto, as mãos para cima,
trazem as bandeiras de medalhas-lama.

Do céu ganhou a armação
em ossos; um nato esquife.
E o recheio, que lhe desse o rio.
Lá na Ponte Giratória, por mais que gire:
ossos que vivem a sobreviver de ossos!

CIA RETIDA

Limitaram teu corpo com cal e pedra,
quando ainda do teu seio brotava infância,
mas não te destruíram. E no espaço, além,
pelo fio das horas tu tecias
tua imagem, mais que verde, de esperança.

Esta imagem de mansinho se espalhou,
com força e mais bela, no meu sangue,
e nas tardes de outono, com teu nome,
distraía a primavera quase exangue.

Não se rendam jamais à pedra e à cal,
que argamassa se faz, cumprindo horrores.
Cantemos o outono e a primavera,
que são feitos de cantos e de amores.

Vês! que num peito, às vezes, comprimido,
entre algozes e angústias, brotam flores.

ROCHEDO HUMANO

POEMA III

Pois não é bom que o homem só esteja:
o homem e a mulher tecem harmonia
onde quer que o amor buscado seja.

Se a partir da aurora nasce o dia,
é forçoso, portanto, estar atento
à luz que dos olhos teus se irradia.

Para cravar em mim vital momento
da parte que da vida é minha vida
e no tear das ilusões é meu alento,

eu não devo olvidar que em toda a lida
lapidei o meu corpo em tua busca
e filtrei a solidão que me castiga.

Mas a alegria de ter-te é mais antiga!

CINCO CHAGAS

Cinco chagas prostram-te no chão
e teu espírito leve evaporou
porque da Paz o homem duvidou.

Que estrutura arcaica te gerou
que permitiu assim teu passamento
nesta Jerusalém feita a cimento?

É que rasgou, a voz da tua guitarra,
a farsa do poder que faz a guerra
sem plantar um só corpo sob a terra.

Calaram-te John (Emanuel) Lennon
mas teu silêncio, neste momento,
faz o mundo repleto de argumento.

Brasília, /80

AS QUATRO ESTAÇÕES

O meu dicionário não tem o vocábulo 
outono. - Seria um tempo marrom, 
matizado de preto? 
Inverno - é período de chuvas, 
galochas nos pés, 
no punho o guarda-chuva, 
proliferação de vírus, 
hibernação forçada. 
Verão - é de janeiro a janeiro 
sol a pino queimando 
o destino desta raça. 
- é o lado de fora, 
a rua sempre em festas 
Primavera - é esta alegria incontrolável de viver 
segundo por segundo, como quem tece as horas; 
é o direito de percepção das coisas fúteis e inúteis 
vontade de soltar pipas, de jogar bolas, 
de permanecer criança 
é a fotografia da memória, com ela ao meu lado, 
curtindo o cio da minha própria alma. 
cavalgando o meu corpo. 

SER CRIANÇA EM NOITE DE NATAL

Tantas vezes a fadiga se desmancha
na mão que faz aurora e faz orvalho
e fez a vida fez o homem e faz verdade.

Tantas vezes a aurora se levanta
expondo as manhãs como crianças
nas peripécias sutis da claridade.

Tantas vezes a vida se acorda
e se joga a fazer a coisa feita
que para colhê-la ao homem bastaria

lançar o coração feito uma rede
a diluir entre nós essa parede
de indiferença erguida a cada dia.

Mas se os dias se vestem destes fatos
dada a colheita de frutos imediatos
tracemos novos rumos sem segredos

que a partir dum crepúsculo universal
igualitários na posse dos brinquedos
sejamos crianças em Noite de Natal.

Brasília, 1986

Confira AQUI mais poemas do escritor buiquense, Cícero Amorim Gallindo, Cyl Gallindo. 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Meus POEMAS I

Sina de Poeta

Por ter guardado segredo
Eu vivi em solidão
Passei fome, frio e medo
Machuquei meu coração.

Hoje tenho um desafio
Que é dar sem receber
Isso é sina de poeta
Só não sei dizer por quê.

Se Viver

Sou amigo do meu bem
Mesmo estando apaixonado
Ela me deixa no frio
Se viver é desafio
Quero ela do meu lado.

Ainda sinto desejo
Seu beijo não sai de mim
Lembrança que está perdida
Se viver custar a vida
Deixarei que seja assim.

Carinho ou Beijinho

Carinho de amor ou de paixão
Carinho de amizade também
Carinho agente quer ter todo dia
Ainda mais quando recebe
Carinho do nosso bem.

Beijinho sem carinho não compensa
Beijinho sem paixão não tem sabor
Beijinho quando é dado com jeito
É chamado pelo corpo
De beijinho do amor.

Amor e Paixão

Amor é coisa rara neste mundo
Amor serve também de inspiração
Amor é veneno que contagia
Quando criança queria
Ter amor no coração.

Paixão é como fogo no meu peito
Que queima toda vez que nós se vê
É chama que consome o dia todo
E ainda sobra pro outro dia
Fogo pra dá e vender.

Meus SONETOS

Consciência Negra

Em um passado distante
De consciência pesada
Um homem de negro feitio
Encantou todo Brasil
Com sua longa escapada;
Hoje ainda tem quem diga
Quem condene um inocente
Pois a consciência negra
Estará sempre presente;
Preconceito, isolamento
Isso tudo e tudo mais
Não se deve existir
Pois, só Deus pode impedir
E fazer da guerra, paz.

Tentação

Queria escrever o que sinto
Sem ter que pensar em você
Queria beijar-te eu não minto
Mas não sei te merecer.

Fui ferido por espinhos
Que plantei sem perceber
Fui tentado ao teu carinho
Mas não sei te merecer.

Hoje vivo em desatino
Sem amor, com solidão
Sou homem feito menino.

Choro quando estou sorrindo
Beijo quando estou dormindo
Isso sim é tentação.

Não Sou Poeta

Foi com um abraço que você me conquistou
O seu sorriso renasceu o meu amor
Mas o seu beijo fez bater meu coração
Não sou poeta, mas te fiz esta canção.

Tava carente de carinho e sem paixão
Um solitário perdido na multidão
Mas um lobinho a procura de amor
Não sou poeta, mas eu sou merecedor.

Foi com você que descobri que sou feliz
És uma flor tão bela e sem comparação
Não sou poeta, mas te fiz esta canção.

Deixa eu te amar como nunca amei alguém
Deixa eu beijar-te como sempre quis um dia
Admito a você que não é ilusão nem fantasia.