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segunda-feira, 18 de abril de 2022

O REINO DOS CANTADORES OU SÃO JOSÉ DO EGITO etc., COISA E TAL


Por: Carlos Alberto Cavalcanti

Um quarto de século vem marcar, em 2021, as comemorações alusivas à primeira edição do livro de autoria do saudoso professor José Rabelo de Vasconcelos, publicado em 1996, pela CEPE, obra com que proclama, alto e bom som, o seu amor incondicional à terra que lhe serviu de berço, assim como divulga a prática do Repente, com a autoridade de quem conhece o fundamento teórico e o manejo da métrica e das rimas que estruturam a poesia oral expressa nesse formato de poesia que representa um traço interligado às manifestações culturais da região do Pajeú, notadamente em São José do Egito, onde a Cantoria está sentimentalmente associada à vida do povo através das costumeiras pelejas que reúnem figuras antológicas da tradição do Repente e enraíza, no meio do povo, a continuidade dessa influência benéfica entranhada na história e nas emoções desse povo sertanejamente feliz, guardiões do Reino dos Cantadores, tendo São José do Egito como a capital desse império da viola e do verso.

Rabelo resgata e projeta essa riqueza da poesia oral através da exemplificação que constitui a estrutura do seu livro, onde, em torno de 75 páginas, ele vai descrevendo, passo a passo, as atribuições delegadas aos componentes desse Reino e, numa riqueza metalinguística, as variantes da composição poética com que se dá a peleja ou a apresentação solo. São, ao todo, 15 baiões.

A obra se agiganta, então, na medida em que expressa o vínculo telúrico do autor por sua terra, vínculo inseparável nas lembranças do autor, mesmo quando longe se encontrou por razões de estudo ou luta pela sobrevivência.

A biografia de Rabelo aparece já na segunda edição do livro, publicada em 2014, pela BAGAÇO (páginas 101 a 122), um acréscimo substancial e necessário, pelo que não nos alongaremos nesse detalhe.

Vale ressaltar que, por onde passou Zé Rabelo, em Pernambuco ou fora do estado, os traços potencialmente relevantes da ligação de Rabelo com a Educação, a vida jurídica e a política vão marcar cada metro quadrado de sua presença.

Rabelo foi dotado, pela natureza, da arte de falar. A oratória pedagógica, forense ou parlamentar são, sem dúvida, aspectos enriquecedores de sua personalidade forte e inquieta de homem corajoso e decidido.

Se não vestiu a batina para o exercício formal da vida religiosa, vestiu-se, contudo, do manto dos ensinos apostólicos de amor ao próximo, perdão e desapego às vaidades de bens materiais.

Seu patrimônio maior foi o cabedal de conhecimentos culturais – e desse ele poderia ser vaidoso – pois não tomou de ninguém, mas o construiu com suor e lágrimas.

Rabelo soube se portar diante das adversidades da vida pública. Seja quando não logrou êxito em candidaturas, seja quando, vitorioso, a truculência da Ditadura lhe tolheu a liberdade do exercício do mandato.

Lembro de Rabelo aqui em Arcoverde, candidato a prefeito pelo PMDB, um franco atirador, pois o artifício da legenda findou validando a candidatura do opositor, seu amigo Dr. Ruy de Barros. Mas Rabelo não perdia o equilíbrio e a elegância da disputa. Dizia ele no palanque: “A verdade não rui!” (num trocadilho irônico e crítico entre a eufonia verbal e nominal associada ao opositor do PSD).

Mas, como disse, deixemos as digressões biográficas de lado e retomemos a assertiva sobre a obra e o seu gigantismo. Além do aspecto telúrico que mantém Rabelo impregnado de lirismo e sonhos em relação a São José do Egito e adjacências, a obra presta um grande serviço cultural ao relacionar nomes pontuais entre os praticantes do Repente, aos quais ele designa pelo tratamento monárquico correspondente; quanto didático, na medida em que, com a habilidade intelectual e a sensibilidade poética que lhe são peculiares, Rabelo cuida em instruir o leitor sobre os fundamentos da poesia popular, demonstrando, na construção do poema, a ampla variedade de estruturação dos versos e das estrofes tanto quanto da métrica, de modo que o livro, além de encantar pelo lado artístico de projetar o torrão natal aos quatro ventos, também encanta pela concepção teórica e a demonstração segura e competente com que o autor vai ilustrando a narrativa poética. Sem dúvida, temos aí um curso sobre a criação poética pelo viés da poesia popular, herança europeia que se fixou nessas paragens sertanejas.

Assim, ele vai construindo, em cada baião, a narrativa poética que se torna envolvente e nos remete a uma profunda reflexão sobre a importância da preservação e divulgação cultural da experiência de um povo que, talvez, na ótica apressada de observadores destituídos de embasamento sólido sobre a região, não vejam além das notícias associadas às mazelas da seca, como é o que ocorre com o Nordeste desde os primórdios de sua existência geográfica e social.

Após um prelúdio intitulado LOUVAÇÃO DO PAJEÚ (p. 21), vem a parte que engloba os baiões, cada qual com uma epígrafe explicativa a que se refere. Evidentemente, o BAIÃO I trata de apresentar a cidade (sede do Reino Poético) que vai da página 23 até a 29, reunindo uma riqueza de informações geográficas, históricas, antropológicas, um documento de alto nível, digno de registro em Cartório. Do BAIÃO II até o IV (p. 30 a 38), há referências sobre o território que abrange o Reino, os integrantes da Dinastia e a população dos súditos.

No BAIÃO V (p. 39), expõem-se a legislação penal adotada pelo Reino, no BAIÃO XIII (p. 93 a 94) afirma-se sobre a Ciência do Reino e no BAIÃO VI (p. 42 a 44), destaca-se o aspecto ritualístico do Reino, condensado no Decálogo. Esse tema é retomado no BAIÃO X (p. 84 a 87) e no BAIÃO XI (p. 88 a 91).

O BAIÃO VII (p. 45 a 49), o BAIÃO VIII (p. 50 a 66), o BAIÃO XII (p. 92) e o BAIÃO XV (p. 96) são, respectivamente, onde o autor reúne, a um só tempo, a teoria e a prática sobre a criação poética manifesta na oralidade do Repente. Só um professor da envergadura de um Rabelo para proceder, com profundidade, a demonstração teórica que perfaz todo o caminho criativo das modalidades associadas às várias manifestações da Cantoria e, como é o caso do BAIÃO VIII, exemplificar cada caso com textos extraídos do repertório regional, criações fantásticas do homem simples e do poeta completo, resgatando, para o mundo, esse mundo impressionante da poesia popular construída com a maestria do improviso do mote e o desdobramento das estrofes irretocavelmente perfeitas na oração (a mensagem do poema), na métrica e na rima. O BAIÃO XII, por sua vez, desaprova peremptoriamente a quem canta versos decorados.

No BAIÃO IX (p. 67 a 83), o professor Zé Rabelo apresenta uma antologia humorística de piadas contadas ao sabor do improviso, característica muito acentuada no perfil desse Império Poético e no BAIÃO XIV (p. 95) há uma referência à morte do Faraó Lourival Batista (o terceiro da nobreza), mas, ao contrário de lamentações, diz o professor Zé Rabelo: “ mesmo assim se está contente/por não faltar sucessor/ vez que a muito cantador/capaz de ser Presidente [...] Faraó ou Presidente/à Nação não faltará/que o País dos Cantadores/para sempre viverá”.

Se não lhe foi possível, em sua terra querida, a criação de uma Faculdade, razão maior de se expor em campanhas municipais carregadas da desigualdade em relação ao poder econômico, Rabelo conseguiu, ao aportar em Arcoverde, ser Diretor da Faculdade local, exercer o magistério com aquela paixão literária que o fez um ícone regional na sapiência múltipla do domínio da LÍNGUA e da LITERATURA e, depois de uma batalha hercúlea diante da resistência dos setores competentes sobre a aprovação de disciplinas junto ao MEC, em Recife, conseguiu aprovar a inclusão de LITERATURA SERTANEJA na Grade Curricular da Faculdade, hoje, CESA – Centro de Ensino Superior de Arcoverde.

Que tais vitórias sejam reiteradas diante da comunidade acadêmica e do povo em geral, para registro histórico e incentivo a novas conquistas que deem continuidade, aqui e além, dos frutos de uma colheita que muito nos orgulha.

*(Texto escrito em 2021, para comemorar os 25 ANOS DA PRIMEIRA EDIÇÃO)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

35 anos do Livro BAÚ DE ARCOVERDE de WILLIAM PÔRTO

Por: Carlos Alberto Cavalcanti*

Arcoverde é uma cidade bem dotada de memorialistas. Há uma boa bibliografia na qual seus autores enfocam – em prosa ou verso – suas reminiscências sobre pessoas e fatos que representam um mergulho no rio caudaloso da saudade de Olho D’Água dos Bredos, Rio Branco e, agora, Arcoverde.

Dentre essas obras, O BAÚ DE ARCOVERDE tem presença garantida na lista de leituras, posto que o autor, William Pôrto, cronista vocacionado desde os tempos que não passava de um Piolho, denominação carinhosa com que era tratado pelos muitos amigos de conversas avulsas, é um arcoverdense sentimentalmente agregado a essas lembranças.

Para a felicidade geral da Terra do Cardeal, William dispõe de uma memória extraordinária que, aliada ao talento para a redação minuciosa dos fatos, deu-nos, como produto final, esse livro fantástico que hora chega aos 35 anos de sua publicação inaugural.

Com certeza, a obra está a merecer uma nova edição para coroar esse longo tempo de existência, sobretudo porque livros assim não são expostos na vitrine das livrarias, sempre ocupadas em mostrar os chamados best seller, alguns elevados a tal destaque pela força do poder promocional que reúne, a um só tempo, escritores, editores e publicidade em favor de uma obra, às vezes, de pouco teor literário.

Mesmo em cidades maiores, há um descaso para com os escritores locais, cujos livros ficam num recanto de pouco acesso, enquanto lá na frente, as “obras” são expostas com requintes chamativos.

Lembro que a UBE, no Recife, encaminhou um veemente protesto aos proprietários das principais livrarias da cidade, no sentido de garantir um espaço respeitoso para com as obras de autores pernambucanos.

Ao abrir o BAÚ DE ARCOVERDE, o leitor vai encontrar uma coletânea de textos que escavacam nossas lembranças até o mais interior dos recantos. William, a exemplo de um explorador de pepitas, vai sacudindo sua peneira cuidadosamente, para que não se perca nenhum detalhe do relato colhido lá no fundo do baú da saudade.

A obra vem ancorada por comentários introdutórios. Logo nas orelhas, temos as palavras de Anna Karenine (filha de Wiliam) que, com a firmeza de quem leu os originais, confirma a desenvoltura do autor dos escritos: “são crônicas das mais diversas - relatos e descrições telúricas mescladas de humor e nostalgia”.

De fato, William é um escritor que se fez ao longo de inúmeras e variadas leituras de obras literárias. Construiu uma carga afetiva que vem refinada por essas leituras e pela interação constante com pessoas do seu círculo familiar e de uma vasta lista de amizades.

Tudo isso representa o seu histórico de vida que, com certeza, é bem mais amplo do que o histórico da rotina escolar. Tanto assim que, com base na soma dos textos publicados nos jornais por onde teve passagem, imperiosamente os amigos fizeram coro no sentido de que William reunisse o material num livro. Anna Karenine afirma: “William Pôrto, inegavelmente, é uma das maiores expressões do jornalismo interiorano”.

Um outro nome se levanta em defesa dessa afirmação, até porque um dos incentivadores para que essa publicação se tornasse realidade. Trata-se do também cronista Boanerges Pacheco, por muito tempo colaborador do Jornal de Arcoverde.

No prefácio do Baú de Arcoverde, Boanerges afirma sobre a construção da obra: “Repontam a singeleza criativa de oportuna mensagem, a autenticidade das palavras enxutas e o rico conteúdo de pensamentos calcados em reminiscências expressivas [...] nas referências a pessoas queridas e episódios relevantes”.

William Pôrto corresponde amplamente ao respaldo dessas opiniões na obra que agora chega aos 35 anos de publicação. Estruturada em quatro blocos, no primeiro deles temos 15 textos reunidos pelo subtítulo: BAÚ DO PASSADO. Abre essa lista: A CASA DO MAJOR (p. 13), talvez o mais intenso em dose de emoção, pois trata diretamente do ponto de partida da vida de sua família em Arcoverde.

Em seguida, dois textos tratam de sua vida escolar: GINÁSIO CARDEAL ARCOVERDE (p. 25) e A ESCOLA DE DONA LAURA (p. 45). São relatos confessionais de muita sensibilidade narrativo-descritiva com que William se refere a Dona Laura Rabelo, diretora da escola (onde William estudou antes de ir para o Cardeal) e ao padre Delson, já no Cardeal, onde ele elenca, com detalhes de um fisionomista profissional, as características dos professores da Casa.

O segundo bloco, com o subtítulo: NOSSA GENTE reúne, em 14 textos, descrições bem dosadas de detalhes quase fotográficos sobre personalidades variadas da comunidade. Mais uma vez William trabalha como um escultor que tem que entregar a encomenda contratada com a fidelidade correspondente ao modelo original.

Não há como não “ver” João Miudinho jogando bola em Sertânia ou exercendo sua atividade de advogado ou mesmo discursando na Câmara de Vereadores de Arcoverde, como está em: CAMARADA JOÃO MIUDINHO (p. 67).

Não há como não se “sentir” dentro da Tipografia Prima, de Napoleão Arcoverde, ali na Antônio Japiassu, cercado por caixotes de resmas de papel e aquele cheiro forte da tinta das máquinas impressoras que chegava às narinas logo ao entrar no recinto. Ali estava Napoleão: “pessoa fechada, dura, intransigente, séria”, assim o descreve William em: NAPOLEÃO DA PRIMA (p. 81).

No terceiro bloco, com o subtítulo: NOSSAS CAMPANHAS POLÍTICAS, William consegue nos levar para os comícios e passeatas que ocorriam naqueles tempos já guardados no BAÚ DE ARCOVERDE. Da lista que compõe essa seção, menciono: ÁUREO x GIOVANNI (p. 123), posto que reúne uma queda de braço entre duas forças de peso na História das campanhas políticas arcoverdenses. Década de 70 do século XX. Tempos difíceis na política.

O embate municipal estava acirrado. Mas a decisão veio mesmo do povão que se vestiu de azul e acompanhou o professor Giovanni rua a rua, bairro a bairro, em memoráveis e impressionantes passeatas. William, com a isenção de um jornalista, a despeito de que um dos candidatos era seu irmão, conta tudo.

Por fim, o quarto bloco intitula-se: ARTIGOS ESPARSOS e contém 16 textos. São oriundos de publicações já estampadas nas páginas de jornais regionais, também no Jornal do Commercio.

Vale a pena citar: CARTA AO ZÉ NINGUÉM (p. 159), texto inicialmente publicado no Jornal de Arcoverde (30/06/86), no qual William se dirige a um leitor hipotético e se abre com ele sobre a situação da vida em geral e da vida político-administrativa do País.

Há traços de lirismo e de indignação na fala do autor do texto (talvez uma voz coletiva aí acoplada à voz do narrador) que, igualmente, reverbera não aos olhos-ouvidos de um só leitor, mas se amplia a múltiplos olhos-ouvidos. A força do texto ultrapassa as fronteiras do tempo e parece ecoar na atualidade.

Concluindo, reiteramos nossa admiração pelo autor de BAÚ DE ARCOVERDE. Mesmo distanciados geograficamente, temos muito em comum nessa vinculação telúrica por Arcoverde de qualquer época.

*Carlos Alberto de Assis Cavalcanti, natural da cidade da Pedra – PE, nasceu em 28 de fevereiro de 1955, é casado com a sra. Jaci Ferreira Lira Cavalcanti; Professor do Centro de Ensino Superior de Arcoverde – PE, área de Letras. Mestrado pela UFPE. Autor de: Itinerário Poético – poesias – Menção Honrosa no Concurso Nacional de Poesias da Academia Pernambucana de Letras [2001]; Em 2012 recebeu o Título de Cidadão Arcoverdense. É detentor de vários prêmios nacionais nas modalidades: poesia moderna, sonetos e trovas. Tem poemas incluídos em diversas antologias nacionais, por conta de premiações em Concursos Literários. Associado à UBE (União Brasileira de Escritores); Membro Correspondente de Academias em Cachoeiro do Itapemirim – ES, Ponta-Grossa – PR e Rio de Janeiro – RJ; Delegado Municipal da UBT [União Brasileira de Trovadores]. 

domingo, 24 de janeiro de 2021

Estação das Lembranças de GIOVANNI PORTO (21 anos de um LIVRO DE MEMÓRIAS)

Por: Carlos Alberto Cavalcanti*

A obra veio a público em 2000. Autor: Giovanni Porto. Mais de 30 textos memoriais construídos com a qualidade estética e metódica de quem conhece a História e dela foi um protagonista de peso, seja no exercício do seu ensino nas escolas da cidade, seja quando fez História no exercício do mandato de prefeito arcoverdense, tendo deixado, nas duas atividades, um legado de inestimável valor para o município.

O livro traz, no prefácio, a palavra abalizada de um grande das Letras pernambucanas, o escritor e médico Rostand Paraíso, do Recife, cronista conceituado, falecido em 2019. A partir da própria capa, onde uma bela e saudosa foto mostra um flagrante da Estação de Trem Barão do Rio Branco, passando pela leitura do sumário, que serve de entrada nessa viagem de volta ao passado, o livro projeta, no leitor, as lembranças do autor. Há como que um encontro marcado entre autor e leitor numa sequência de lembranças introjetadas na larga vivência do autor e compartilhadas com leitores de todas as idades.

Ao anunciar que “nestas páginas se encontram apenas pensamentos e lembranças”, o autor prepara o leitor para acompanhar o seu trajeto memorialista que preliminarmente se organiza em três blocos distintos da escrita do professor Giovanni Porto. Num primeiro momento - ou na primeira metade do livro - há uma reunião de textos reflexivos, nos quais o autor se detém sobre conjecturas existenciais, com uma forte carga emotiva recheada de nuances filosóficas. Diz Giovanni que “os ascetas rirão dessa autoindulgência” com que se vê enredado após assumir esse olhar filosófico sobre a vida.

Em seguida, o autor se ocupa diretamente em ajustar a criação textual à sensibilidade que lhe é peculiar, passando ao registro das lembranças que lhe ocorrem e são responsáveis pela pulsão das emoções. Diz ele: “O escritor é, também, um narcisista, a olhar-se demoradamente no seu espelho”. Não está só, pois o Dr. Rostand Paraíso, prefaciador do livro, afirma ter um “gosto proustiano pelo passado”.

Então, procede a afirmação de Giovanni Porto ao dizer: “Aqui cravo as minhas estacas e armo a minha tenda”. De modo que, disposto a “viver sem a sofreguidão do desespero e sem a inatividade da melancolia”, Giovanni escreve com a firmeza literária de um cronista experiente, atento aos ditames da Língua e, sobretudo, senhor do trânsito entre as palavras e sua sinuosidade semântica.

Assim, logo à página 48, Tempo do Big Brother, ele abre suas confidências memorialistas referindo-se ao Recife do seu tempo de estudante, tema que reaparece em A Pensão de Nana, página 53. Mas é a partir de Rio Branco, página 69, que o autor se volta diretamente para as memórias arcoverdenses, assunto tratado em mais 15 textos que são antológicos pelo grau de profundidade histórica e sentimental.

Giovanni nos transporta, com seu jeito de narrar abrindo o coração, ao exato momento do que é relatado, e nos inclui na narrativa, uma vez que nos faz reféns de sua saudade. Seria redundante tentar exemplificar tal sensação com uma ou outra citação, pois todos os textos são fortemente carregados por esse estado de retorno ao passado.

Mas não há como omitir que a leitura de A Farmácia do meu tio (p. 97), quando se refere ao Sr. Florismundo e aos caixotes contendo remédios e folhinhas (calendários distribuídos no final de cada ano), reafirma a fugacidade do tempo, para o qual não há remédio que cure; ou ao ler na página 105: Estação Barão do Rio Branco, parece que estamos ali na plataforma, a olhar o entra e sai de gente, a ouvir o apito da partida do trem que até hoje não teve volta... e, por fim, vale ressaltar o texto em que o autor se refere À Imagem Perdida, página 100, onde arranca do fundo do seu coração a saudade um tanto confusa, e talvez por isso ainda mais triste, pois tinha menos de 4 anos quando sua mãe morreu. Helena Rodrigues Porto, ainda tão jovem, partiu e deixou o menino sem poder contar com o abraço maternal, com a palavra aconselhadora. Com razão, diz o autor: “Hoje é que vejo a falta que ela me fez”.

Estação das Lembranças é, portanto, um livro que merece ser lido quase como um diário achado numa gaveta de um velho armário ou um bilhete resgatado de uma garrafa que boia no mar. São reminiscências que apresentam o talento literário do historiador e conta a História com a tonalidade do afetivo.

Vale a pena ler!

*Carlos Alberto de Assis Cavalcanti, natural da cidade da Pedra - PE, nasceu em 28 de fevereiro de 1955, é casado com a sra. Jaci Ferreira Lira Cavalcanti; Professor do Centro de Ensino Superior de Arcoverde - PE, área de Letras. Mestrado pela UFPE. Autor de: Itinerário Poético - poesias - Menção Honrosa no Concurso Nacional de Poesias da Academia Pernambucana de Letras [2001]; Em 2012 recebeu o Título de Cidadão Arcoverdense. É detentor de vários prêmios nacionais nas modalidades: poesia moderna, sonetos e trovas. Tem poemas incluídos em diversas antologias nacionais, por conta de premiações em Concursos Literários. Associado à UBE (União Brasileira de Escritores); Membro Correspondente de Academias em Cachoeiro do Itapemirim – ES, Ponta-Grossa – PR e Rio de Janeiro - RJ; Delegado Municipal da UBT [União Brasileira de Trovadores].

sábado, 6 de junho de 2020

ARCOVERDE: A CALÇADA FICA DESCALÇA SEM SEU "NATAL"


OS SAPATEIROS

Os sapateiros da Av. Japiassu se arranjam nas calçadas em seus ateliês à espera de clientes. Uns chegam trazendo sapatos bem rodados na vida dura de quem anda sempre a pé; já carregaram exaustivamente seus donos rua afora, querem um novo solado. 

Os sapateiros têm seus truques para restaurar velhos sapatos que já deixaram muitos rastros pelas ruas da cidade e, agora, gastos, pedem clemência. 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Recortes (em PROSA e VERSO) da HISTÓRIA DE ARCOVERDE

Por: Carlos Alberto Cavalcanti

ANO 2018

A memória é um dos alicerces que dá sentido à vida. Com uma cidade não é diferente. Preservar a memória da sociedade e sua vivência no núcleo urbano é manter a cidade viva e uma forma de fortalecer sua identidade. Na Geografia Crítica Milton Santos já advertia para a importância do Lugar como ponto de partida para se conhecer e entender a sociedade. Lugar: é uma categoria muito utilizada por aqueles pensadores que preferem construir uma concepção compreensiva da Geografia. Grosso modo, o lugar pode ser definido como o espaço percebido, ou seja, uma determinada área ou ponto do espaço da forma como são entendidos pela razão humana. Seu conceito também se liga ao espaço afetivo, aquele local em que uma determinada pessoa possui certa familiaridade ou intimidade, como uma rua, uma praça ou a própria casa. É o lugar que identifica nossas raízes, por isso essa identidade é quem nos faz sentir a saudade quando dela nos afastamos.

Assim, para que essa memória seja preservada, é preciso conservar fotos, documentos, objetos e organizar os registros dos fatos. Os erros e acertos do passado ajudam a entender o presente e a planejar ações futuras. Também é preciso olhar para as pessoas, pois a história local é uma construção que traz em si as marcas dos sujeitos que dela fazem parte.

[Bloco II]

Desse modo, o uso da escala temporal em conjunto com escala espacial é fundamental para entender a História. A escala espacial diz respeito à dimensão do objeto, se um país, um estado ou um município. Na escala menor, no municio, se dão os acontecimentos do cotidiano, levando a escala temporal que elucida o passado e rege o presente. A escala temporal é quem vai organizar os fatos cronológicos, mostrando como ocorreu a sequência dos fatos.

Muitas vezes os Professores de História se deparam com uma realidade não muito plausível de que grande parte dos alunos não conhece a História de sua comunidade, de seu município ou seu estado, prendendo-se apenas à História nacional, desvinculada da sua realidade local e de seu contexto histórico local. Esse problema causa o desinteresse dos alunos pela História e por outras disciplinas que eles não consideram importantes, justamente pelo fato desses alunos não se sentirem inseridos nessa História ou no processo histórico ao qual essa História se constrói.

Assim, considerando a escala espacial, no mundo (Planeta Terra), na América do Sul, no Brasil, no estado de Pernambuco, na Mesorregião do Sertão Pernambucano, Microrregião do Sertão do Pajeú, que engloba os municípios de Betânia, Custodia, Ibimirim, Manari, Inajá e Arcoverde, objeto de estudo dessa pesquisa de memória.

[Arcoverde - Pernambuco]

Em Arcoverde, quem vem construindo o acervo que preserva a memória de Arcoverde é Carlos Alberto Cavalcanti, mas, de uma maneira diferente, com prosa e verso e imagens. Carlos Alberto de Assis Cavalcanti, e-mail: cajaprof@hotmail.com, é pedrense de nascimento e arcoverdense por adoção, casado com a Sra. Jaci Ferreira Lira Cavalcanti. Professor universitário do Centro de Ensino Superior de Arcoverde – PE, atua na área de Letras, daí sua dedicação à prosa e verso. Cursou Mestrado em Teoria da Literatura - na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, é autor da obra Itinerário Poético – poesias – obra que recebeu Menção Honrosa no Concurso Nacional de Poesias da Academia Pernambucana de Letras (2001); e outras várias premiações nacionais em concursos de poemas, sonetos e trovas. Foi laureado com a Medalha Machado de Assis pela Academia de Letras e Artes Rio – Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro – RJ; da qual é membro correspondente, assim como também é membro correspondente da: Academia Cachoeirense de Letras – Cachoeiro do Itapemirim – ES; Academia de Letras e Artes de Ponta Grossa – PR. Delegado Municipal da UBT (União Brasileira de Trovadores). Sócio da UBE (Recife).

Em 2018, publicou o artigo RECORTES EM PROSA E VERSO DA HISTÓRIA DE ARCOVERDE, disponível nesse blog. Para baixar e conhecer essa obra ainda inédita em publicação física, você deve clicar nesse link na palavra Download em negrito. Baixe agora: (Dowloand).

[Referências]:

CAVALCANTI, C.A. Recortes Em Prosa E Verso da História de Arcoverde, 2018.

SANTOS, M. Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção / Milton Santos.2000.

PENA, Rodolfo F. Alves. "Categorias da Geografia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/categorias-geografia.htm. Acesso em 13 de janeiro de 2020.

Informações: https://natalgeo.blogspot.com/