Na noite deste sábado (20) a literatura buiquense ganhou mais um escritor, trata-se do estudante de Jornalismo Alan Silva, natural do Distrito do Carneiro. O escritor debutante escolheu a Biblioteca Municipal Graciliano Ramos para lançar de forma on-line o livro intitulado: DEUS TEM FOME. A transmissão da Live/Lançamento ocorreu através das plataformas da Live TV Buíque, do comunicador Tony Silva, que não pensou duas vezes em aceitar o convite do recém escritor.
A cidade de Buíque tem muito potencial para literatura, em um simples levantamento nós podemos apontar cerca de trintas pessoas que foram ou são envolvidas com a arte da escrita, entretanto, nós temos a convicção que este número é ainda maior, pois temos vários filhos desta terra que herdaram este dom e vivem pelo mundo, levando a magia adquirida nesta fonte inesgotável chamada de BUÍQUE.
SOBRE O LIVRO
Agora falando propriamente do livro, ousaria dizer que ele nasceu de uma experiência empírica e profunda da maioria dos temas que abordo na obra. Foi me detendo na observância e sentindo na pele alguns desses sofrimentos, que cheguei a conclusão de que sim, DEUS TEM FOME! E isso para nós cristãos deveria ser constante em nossa concepção. Pois, todo aquele que opta pelo estilo evangélico para pautar sua vida, ou tem na figura de Jesus, seja vendo-o como uma liderança, ou um personagem histórico, deveria aprender e apreender dele seus ensinamentos de bondade, concórdia e solidariedade. Em várias passagens ele se configura com aquele que sofre. A todo instante, ele está apontando com autoridade as hipocrisias de quem visam minimizar a vida do outro. A todo tempo ele se opõe as visões preconceituosas do sistema de sua época e coloca as lideranças religiosas a prova, mostrando aquilo que é essencial e aquilo que é fútil. Portanto, esse meu escrito, obviamente está embasado por aquilo que aprendi na minha religião, porém não se esgota aí, e sem pretensão de relativismo, ou marketing literário, ouso dizer que irmãos e amigos de outras religiões cristãs podem ler sem medo de serem coagidos a crerem como acredito, ou migrarem para meu credo. De igual modo, pessoas de outras religiões, ou até mesmo ateus, que apenas veem na pessoa de Jesus um exemplo humano a ser seguido podem beber dessa fonte que hoje apresento.
DEUS TEM FOME começou a ser escrito durante um período difícil, enquanto observava uma amiga chorando desesperadamente por seu filho que estava acometido por meningite e em situação nada confortável. Sem querer me aprofundar nesse caso, só ouso dizer ao vê-la segurando seu filho nos braços, a imagem que me vinha a mante era a da La Pietá, onde Maria segura seu filho no colo. Nesse contexto nasce o livro, que naqueles dias acompanhando o meu amigo naquela situação precária, começava escrever suas primeiras linhas em folhas de prontuário médico, no Hospital Pincanço Correa em Recife. Observando com os olhos do coração me detive a dar forma aquilo que estava escondido em meu interior, e alinhar aquilo que estava ainda em caos no céu da minha cabeça.
A obra está construída e distribuída em sete capítulos, e na medida do possível, busca pincelar as múltiplas formas que impedem o crescimento humano de forma sadio. E com isso, vai estampando no semblante de cada homem e mulher, a imagem de um Deus faminto, afinal, como relata o Evangelho segundo Mateus, Jesus, Deus-homem, se configura com aquele que sofre, a ponto de afirmar com veemência que sempre quando alguém tomba ou é elevado em sua humanidade, na verdade Ele também faz parte desse processo. Não obstante dessa assertiva, a natureza criada por amor e entregue aos homens para dela tirarem seu sustento e dela serem guardiões, conforme, alegoricamente, se explicita no Livro do Gênesis, faz surgir a face da natureza: desrespeitada, esgotada e que de tanto ser agredida, passa de mãe geradora de vida, para uma mãe infértil. Portanto, convidando pensadores como Baumam, Frei Betto, Anselm Grun, Leonardo Boff, Satre, entre outros, o corpo textual vai tomando forma, justificando os argumentos e mapeando possíveis formas, entre tantas outras, que uma vez adotadas, podem contribuir para uma possível conversão de realidades.
Os empecilhos que castigam a vida humana são muitos, bem como também é diversificado o número daqueles que fazem oposição a qualquer força opressora. Ao abrir o leque dos algozes que massacram o ser do ser humano, me deparei com inúmeras delas, contudo, em uma obra singela como essa, seria quase que impossível abarcar todas elas. Contudo, temas latentes como pobreza, corrupção, homofobia, racismo, desemprego, falta de oportunidades para o homem do campo, feminicídio e o desmatamento ilegal, não poderiam deixar de serem abordados, tendo em vista que ou somos vítimas de alguns deles, ou conhecemos quem seja, ou ainda, alguma vez já fizemos parte desse coro que insiste em cantar uma sinfonia de morte. Me permitam explicar o motivo dessas temáticas serem de tal relevância a ponto de terem espaço privilegiado nas linhas que compõe esse livro.
* Pobreza: De modo muito peculiar, ousei abranger a palavra "pobreza" não somente para aquele que se encontra sem recursos financeiros, mas também, coloquei nessa roda aqueles que estão carentes de amor, atenção e respeito, e que muitas vezes ricos em posses estão privados de dignidade, como por exemplo idosos que, mesmo sendo abastados, se encontram em situação de vulnerabilidade, seja em casa, na sociedade ou em asilos. Portanto, debruçado nessa verdade, vou tecendo essa rede que engloba uma gama de realidades que apontam para situações que podem ser superadas se as barreiras da desigualdade social e o egocentrismo de quem pensa somente em si, forem extintas, bem como se os representantes da população trabalharem em prol da superação desses e outros problemas.
*Corrupção: Tendo em vista que muitas situações como falta de creche, escolas bem estruturadas, um Sistema Único de Saúde (SUS) robusto e o direito de ir e vir em segurança não são assegurados, não porque faltem recursos, mas porque esses são desviados descaradamente, penso que essa temática não poderia deixar de fazer parte do rol dos entraves que castigam e maculam a nossa sociedade e que por isso deveriam ser abordada. Longe de mim querer tecer uma imagem pessimista, não, nem tudo é declínio! Existem boas iniciativas, inclusive elas estão listadas em todos os capítulos. De igual forma, são muitos os políticos e líderes que dão um bom testemunho e exercem com maestria e honestidade o cargos que lhes foram confiados. Contudo, engana-se quem resume essa má conduta à esfera política. A corrupção é uma erva daninha que cresce rapidamente em nossa sociedade e hoje, ganha espaço em todos os setores, inclusive nas religiões e instituições filantrópicas.
*Homofobia: Vista grossa, repulsa, impunidade, assim ainda é tratado o tema da homofobia. Porém, todo aquele que diz querer um mundo melhor deve levar em consideração o respeito as diversas orientações sexuais. É injusto quando alguém se despede de si, para se paramentar de algo que não é, pelos simples fato de temer a reação da família, da comunidade eclesial, ou simplesmente por temer não se encaixar nos moldes sociais. O medo da não padronização, já levou diversos jovens à beira da loucura. Alguns não suportando a pressão familiar e social, deram fim as suas próprias vidas. O medo de ser quem são, encaminharam ao longo da história, homens e mulheres a se vestirem de um personagem, e passarem a viver uma fantasia, ou melhor uma angústia dentro de algo não real. Essa assertiva, nos leva a crer que Deus tem fome de dignidade quando alguém que se declara homossexual é excluída do convívio familiar, mendigando dessa forma afeto de terceiros, ou quando ainda eles são recanteados no ambiente religioso, visto como impuros e anomalias. Em uma linguagem poética, podemos dizer que Deus chora quando nos calvários da vida, seus filhos estão a carregar uma cruz chamada chamada preconceito, e não são poucos os que sofrem com os algozes da humilhação, das piadinhas, do olhar atravessado, ou até mesmo são mortos injustamente no madeiro da vida diária. Nesse cenário, o Brasil é um dos países que mais matam indivíduos da comunidade LGBT, e é lamentável que muitas vezes isso ocorra por uma má interpretação do cristianismo. É triste que em nome da pseudo "família tradicional", quem vive e ama diferente tenha que deixar de existir, ou na melhor das hipóteses, se camufle para não ser visto.
*Racismo: Disfarçado ou ousado, o fato é que, mesmo com todos os avanços já dados e depois de tantas conquistas, não são raros os casos de racismo. Ainda é comum os inúmeros episódios onde as pessoas não são avaliadas pelo que são, mas a partir da sua raça ou cor da pele. No Brasil, colonizado por europeus e construído sob os sangue de milhões de africanos escravizados, o preconceito racial ainda é muito persistente. E esse mal se enraizou de forma tão branda, que durante séculos chacotear e elencar coisas desprezíveis como "preto" ou "negro" foi visto como algo natural. Mas se engana quem pensa que em pleno século XXI essa forma desprezível de ver o outro tenha cessado. Hoje, como ele se configura como crime, está apenas escondido sobre um frágil véu que vez por outra ousa aparecer em forma de brincadeira, olhar estranho ou em modo extremo, segregando e emitindo juízo de valor unicamente pela quantidade de melanina na pele. O racismo é um leque enorme e se dirige não somente à comunidade negra, mas também a outros povos como ciganos, judeus, japoneses, entre outros. Aí, podemos também afirmar com convicção que Deus tem fome de respeito e dignidade neles, mas as vezes esquecemos que o próprio Jesus foi vitimado por ser estrangeiro, e sentiu na pele a dor do Racismo quando Natanael disse a seu respeito: " Pode haver coisa bem vinda de Nazaré?" Jó 40, 46.
*Desemprego: Grande parte dos cidadãos brasileiros estão mergulhados em uma crise humanitária enorme. Uma onda avassaladora chamada desemprego, que parece submergir milhões de vidas. Uma catástrofe tão grande que chega a descolorir o céu existencial de muitas pessoas, e pinta de cinza os dias de quem se detém sobe a preocupação de não ter com que se manter. Pais de famílias, jovens recém formados ou idosos não aposentados, sentem diariamente o amargo da falta de oportunidade, de um trabalho digno que assegure uma vida em abundância. O desemprego em massa, muitas vezes é a porta de entrada para a vivência de uma vida sub-humana, com situações precárias, indignas para qualquer ser humano. Contudo, essa situação de vulnerabilidade, também pode ser o estopim para o ingresso no mundo do crime, não se justifica, obviamente, mas deve ser levado em consideração que muitas pessoas, em sua maioria jovens e adolescentes, se encaminham para essas veredas pelo fato de estarem à margem da sociedade. Diante dessas circunstâncias, não poderia deixar de apresentar aos meus interlocutores minha opinião sobre o tema, pois como nas demais situações Deus também nos seus filhos sofrem essa privação.
*Falta de oportunidades para o homem do campo: O trabalho rural é uma atividade sagrada, dela em muitas passagens bíblicas, Jesus se utiliza para educar o povo na fé. Essa atividade tão antiga, infelizmente ainda não pode gozar do devido reconhecimento, o trabalho é árduo, o lucro é pouco e as oportunidades de crescimentos são escassas. Contudo, em comparação com um passado não muito distante, o povo da zona rural já deu grande avanço em suas conquistas, bem como no seu padrão de vida. Não faltam sonhos, força de vontade e fé, contudo, falta mais empenho dos poderes públicos em ofertarem meios e subsídios, que ajudem os trabalhadores a lidarem melhor com os recursos hídricos, manuseio de novas tecnologias e melhores condições de plantios. Como filho de agricultores, tive a grande graça de crescer em meio a natureza e me alegrar com todos aqueles que se felicitavam quando as chuvas eram abundantes, quando a safra era boa e a fartura era certa. Porém, pude também molhar meu rosto toda vez que a situação difícil nos amedrontava. Toda vez que a seca era certa, as perdas também, e o futuro era incerto. "Meu Pai também trabalha", uma vez disse Jesus, e isso me leva a afirmar que esse Pai trabalhador sente nos seus filhos dor da ausência de oportunidade.
*Feminicídio: Um grito tímido, sufocado ou calado, eclodem dos lares de diversas famílias: mulheres são chagadas no corpo e na mente pelo simples fato de serem mulheres. Numa cultura patriarcal machista, lamentavelmente as cenas dessa "novela trágica" se repete. Assistimos estarrecidos a agressão para com as mulheres de várias idades, culturas e padrões sociais. Parece que o mundo aprendeu a calar quando elas gritavam, normalizou o inconcebível, e infelizmente, muitas vezes deixa impune aquilo que castigo nenhum seria suficiente para reparar o erro. Deus tem fome de respeito quando essas mulheres sucumbem frente a um sistema que ainda não aprendeu o valor do papel feminino. Ele sofre quando suas filhas são vistas como objeto sexual. Quando elas são tratadas como mercadorias e sexo inferior ao homem. Onde existe um mulher ganhando menos que o homem, mesmo exercendo igual função, onde houver uma só mulher sendo espancada por seu companheiro, e onde uma tiver sua vida ceifada, é a Deus que cometem todas essa crueldade. É preciso construir essa cultura de igualdade de gênero, para que não haja nem fortes nem fracos, mas que todos sejam um, como o próprio Jesus pede.
*Desmatamento ilegal: Por fim, porém sem menos gravidade, assistimos todos os dias os altos índices de desmatamento. A crueldade do homem frente a toda natureza chega a nos chocar. Em nome do progresso, se mata, se polui se destrói. Contudo, a ganância que tem o hábito de cegar as pessoas, faz que que não enxerguem que toda vez que o meio ambiente é agredido, o ser humano também é ou será. Esquecem que a mãe natureza que é viva e geradora de vida, também pode se vingar dos seus filhos a quem ela sustenta. É urgente que vozes se levantem contra o consumo irregular dos recursos naturais, que os grandes que exploram de forma ilegal as matas, sejam punidos, e que as autoridades zelem e vejam como prioridade a defesa da natureza em toda a sua extensão. Uma indagação que deixo na obra é a seguinte: se o ser humano deixar de existir a natureza continuar a crescer e se desenvolver, porém se ela se extinguir, será capaz o homem de sobreviver?
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