O PODER, O SER & O TER - A DISPUTA ENTRE A PARTILHA DA ABUNDÂNCIA E O PROJETO DE ÓDIO E GANÂNCIA


Por Josessandro Andrade, Artista da Palavra

O exercício da prática política muitas vezes reflete a formação ideológica, consciente ou inconsciente do indivíduo. O comportamento humano na disputa pelo poder é frequentemente influenciado pela maneira como enxergam o mundo e a realidade. No jogo político, frequentemente se opõem: de um lado, a visão de sociedade baseada na inclusão, no pluralismo e no fortalecimento da democracia e da participação popular, a governança pelas mãos do povo versus o modelo voltado para elites, centralização do poder e decisões de cúpula, ou seja, a elitização do poder.

Dessa forma, podemos diferenciar dois polos antagônicos: os que buscam o bem coletivo versus aqueles que têm como objetivo principal o benefício pessoal. Enquanto os primeiros usam o poder para ações em prol do público em geral, sobretudo os mais necessitados, os outros priorizam atender a poucos com privilégios. O foco está na universalização das políticas públicas para todos versus o império da ganância por vantagens pessoais, usura e dinheiro fácil. Isso se origina da concepção de estado que cada um tem: o estado de bem-estar social para todos, ou o estado mínimo para atender as demandas de poucos, ou seja, das elites. Os líderes desses polos também têm origens e atuações distintas: os primeiros nas organizações populares e movimentos sociais, os segundos nos escritórios ostentadores das grandes corporações econômicas.

O destaque em usar o poder para servir ao povo é o oposto de quem quer o poder para atender a sua vaidade pessoal, status, prestígio e mando. Enquanto o primeiro tem como principal rumo de sua conduta o ideal do trabalho, o segundo tem no dinheiro sua principal ferramenta e argumento para conquistar (comprar) as pessoas. Para estes, a cobiça pelo poder, uma sede de mando, vira uma obsessão, um orgulho compulsivo, que consequentemente resvala para o prazer de oprimir. Enquanto o trabalho se norteia pela convivência pacífica e a tolerância, os partidários do dinheiro tendem a querer destruir a imagem ou eliminar até fisicamente os adversários, para quem são verdadeiros inimigos pessoais, cuja fúria não conhece limites. A História comprova tal afirmativa.

Assim, podemos concluir que, quando se está em lados contrários, trabalho versus dinheiro, é uma disputa entre consciência versus ego. Os que querem servir ao povo e os que querem o povo como servos de senhores feudais. As promessas de opulência do dinheiro escondem que é exclusivo para as elites, restando para o povo servo a escravidão pelo trabalho precário e mal pago. Com raras e honrosas exceções, os ricos não gostam dos pobres, muitos não querem vê-los bem, preferem o trabalhador sem direitos, como um escravo de luxo, para darem vazão à sua alma opressora. Isso vai desde o rico da casa grande até o bajulador do rico, que quer se sentir rico também. Enquanto o trabalho oferta horizontes para um futuro de fartura e distribuição de renda, de direitos sociais socializados.

Nesta disputa entre consciência e ego, temos como similar a oposição entre grandeza de alma e a pequenez de espírito. Isso faz com que as pessoas que se inserem ao lado da ganância e do ódio não levem em conta propostas ou qualidade administrativa, mas sim a potencialização do ódio acima de tudo (qualquer um é melhor que meu inimigo pessoal), o vale-tudo das agressões, das acusações gratuitas, sem reconhecer um milímetro de mérito nos oponentes e fabricando virtudes nos seus, que muitas vezes são simulacros de defeitos. É reflexo e muito disto o que cada um deposita no ambiente destas disputas, se energias positivas, boas vibrações, capacidade de perdão, grandeza de espírito, ou se emoções trevosas, ódio, rancor, orgulho, ressentimento, excesso de vaidade, azedume, retaliação, vingança, violência. A evolução na superação de mágoas e ranços é vista como fraqueza, enquanto a exacerbação das rixas e das iras é festejada como duelos das arenas medievais, aplaudidos pelo orgulho dos tolos, que batem nas próprias veias, como se o sangue que faz todos ter vida justificasse o ódio que muitas vezes gera o seu derramamento.

Afinal, como disse o poeta "Quem tem mel, dá o mel, quem tem fel, dá o fel, quem nada tem, nada dá..." (A Sagrada escritura dos violeiros).

A generosidade solidária do amor versus o projeto de ódio e ganância nos mostra o interior, a essência dos indivíduos e dos coletivos. À esquerda da mesa da humanidade, sentam-se abundância e partilha. Do outro lado, à direita dessa mesma mesa, o egoísmo e a mesquinhez. Ou ainda a humildade dos que vieram de baixo versus a arrogância dos que estão no topo das classes sociais. Qual a verdadeira riqueza? A material ou a interior? O ser ou o ter? O saber ou o cobre? Basta analisar a trajetória de cada um para verificarmos se é coerente com a conduta dos dias atuais. Entre o trabalho e o dinheiro, o passado, como chegou até aqui, o que fez para tal, de que modo. Se sempre se preocupou com a coletividade ou apenas com seus próprios interesses. Dessa reflexão, saberemos se queremos dar vez à consciência ou ao ego, se queremos na sociedade que prevaleça o amor ou o ódio, a fraternidade ou a ganância, a beneficência ou a avareza, o bem coletivo ou o interesse pessoal, a qualidade e o preparo ou o ódio e a incompetência. Da nossa escolha brotará o veredito, a nossa contribuição para a evolução da sociedade ou para a estagnação ou deterioração da mesma: se desejamos o diálogo com a esperança ou nos calar diante das trevas da ignorância.

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